I - Ivan Illich
- Maurício Mafra
- 2 de nov. de 2017
- 4 min de leitura
De modo geral há dois grupos que falam sobre educação, um ao lado mais a esquerda do espectro político, onde emprega na educação um viés mais progressista, com mais escolas públicas, com métodos mais centralizados pelo governo, etc., e um mais a direita do espectro com uma educação mais tradicional, com mais instituições privadas, métodos mais centralizados na família e comunidade, etc. Proponho aqui mostrar a visão de um autor que não compartilha de nenhumas dessas visões, me refiro ao educador Ivan Illich. Nascido em Viena, em 1926, cursou Filosofia e Teologia, possuindo Ph. D em História. Foi para os EUA e viajou toda a America Latina conhecendo e ministrando cursos por onde ia. Morreu em 2002.
Ivan Illich não compactua com uma sociedade que burocratiza a educação. Em linhas gerais a escola, na sua visão, era apenas um assinar de papeis que indicavam os cargos que o aluno poderia ou não ter. Para ele a escola deveria ser um conjunto de instituições que fomentem a educação sem a necessidade de leis, assim ele fala, "O Estado não fará leis para regulamentar a educação. Não haverá obrigatoriedade ritual para todos." (Sociedade sem escola, p. 35). Portanto, a sociedade sem escolas só existirá quando não houver leis sobre educação, uma total anarquia em relação à educação, seria a liberdade individual acima de tudo. Vejamos seus argumentos para tal afirmação.
A não obrigatoriedade de reunião é politicamente reconhecida como de extrema importância para as sociedades, ela basicamente fala o seguinte, o indivíduo não deverá ser obrigado a participar de reuniões, seja de qualquer fim. É muito intuitivo para nós que nenhuma pessoa deveria ser obrigada a frequentar sindicatos ou agremiações políticas ou congressos religiosos, etc., o indivíduo deve ser livre para frequentar aquilo que ele acha certo ou lhe convém. No final das contas as ditas reuniões são locais onde se aprende muitas coisas, bem específicas aliás, assim como a escola. Portanto, obrigar os pais a matricularem seus filhos em escolas ou obrigar jovens a frequentar os colégios é ferir essa idéia de liberdade de livre reunião.
A forma como os governos obrigam os alunos a frequentarem as escolas ou universidades variam, eles não precisam por uma arma na sua cabeça, eles podem simplesmente tirar-lhe o emprego ou oportunidades de crescer economicamente, socialmente, etc. Nas palavras de Ivan Illich:
"A escolaridade não promove nem a aprendizagem e nem a justiça, porque os educadores insistem em embrulhar a instrução com diplomas. Misturam-se, na escola, aprendizagem e atribuição de funções sociais. Aprender significa adquirir nova habilidade ou compreensão, enquanto que a promoção depende da opinião formada de outros." (Sociedade sem escola, p. 36)
Essas funções sociais são o motor principal das pessoas à esquerda. Elas acreditam que a escola fará com que os alunos galguem os degraus do conhecimento e façam o papel de trazer a igualdade para todos, uma imposição de cima para baixo. Porém tal educação determinará apenas uma casta que pode e outra que não poder argumentar, inserindo uma aristocracia muito mais obtusa do que qualquer absurdo cometido em Roma. Sendo assim a hierarquização não terá laços familiares, laços de comunidade ou de território, mas apenas laços curricular comum. São essas mesmas pessoas tendem a igualar o currículo, criando apenas uma divisão, os que sabem e os que não sabem, uma dicotomia ilógica. Nada mais absurdo do que criar uma casta intocável por leis que eles mesmo criam e modificam, e alcançá-los só será possível depois da submissão aos seus parâmetros e desígnios.
Ivan Illich realmente pretende construir uma sociedade sem escolas, não só com uma desregulamentação total dela, como também a destituição de todos os parâmetros conhecidos, pretende até criar uma moeda educacional, como forma de desvincular os bens materiais e intelectuais.
Suas críticas vão além da escola e seus parâmetros, indo até o professor, como ele diz:
"A difundida opinião de que o comportamento adquirido sob as vistas do pedagogo é especialmente valioso para o aluno e de particular benefício para a sociedade." (Sociedades sem escola, p. 116)
Assim, o pedagogo possui um poder extra, pois o mesmo possui poder do presente e futuro do aluno. É muito mais nocivo se este poder for ministrado por um educador que queira enrijecer a educação.
Todos os problemas da educação, no fim das contas, é relacionado ao poder que a escola teve após a revolução industrial, onde era preciso obter profissionais capazes em grande escala. Assim o dinheiro, a ascensão social, etc., começou a corromper as instituições de dentro para fora. O livro Relatório de Yale de 1828 já relata este problema do que devemos fazer, produzir profissionais em massa ou educar o máximo de pessoas possíveis para que elas sejam pessoas que saibam resolver os mais diversos problemas?
A visão de Ivan Illich é interessante sobe certos pontos de vista, como a criação de uma moeda e da não obrigação ao comparecimento de reuniões. Todavia uma anarquia total da educação iria levá-la ao colapso. Precisamos achar o meio termo entre os ideais deste autor com os ideais conservadores para que tenhamos um modelo coerente de educação, mas apenas um dentre toda a vasta gama desse assunto.

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