Sobre conhecimento
- Maurício Mafra
- 22 de out. de 2017
- 3 min de leitura
O que é verdadeiramente conhecer algo? Há diferença entre saber e conhecer? Existe uma gradação do conhecimento? São algumas questões importantes que quero abordar.
O conhecimento é a capacidade de um indivíduo de apreender um objeto, para tal ele terá que conter meios cognitivos que faça-o combinar as diferentes parte desse objeto para que ele tenha uma forma completa e precisa, isso ocorre por meio de induções, contemplações, dedução, memória etc. Os processos cognitivos constituem os fundamentos. Por sua vez, tais processos cognitivos são formados por estruturas mentais que são modificadas ao longo do tempo em cada indivíduo. Sim, os processos cognitivos são formados por estruturas modificáveis, como bem explica Reuven Feuerstein em Além da inteligência, e, portanto, são características inatas de todos os seres humanos.
A educação também é uma modificabilidade estrutural dos processos cognitivos, que por sua vez serão indispensáveis para conhecer e aprender qualquer coisa. Tais processos estão inatos mesmo nas mentes mais "fracas" ou deficientes, devido a fatores biológicos e/ou acidentes físicos. Desse modo, possuir estruturas cognitivas coesas, fortes e equilibradas é a única forma de ter uma capacidade melhor para conhecer as coisas.
Teremos a diferença do saber e do conhecer. Saber é um ato espontâneo da memória em conjunto dos processos cognitivos ativos, porém em uma escala muito baixa de compreensão pois não há uma apreensão formal do objeto. É a formação da imagem do objeto mas sem uma perspectiva geral do mesmo. Usarei duas analogias para melhor entendermos.
Pensemos nós em um ateliê de pintura, onde teremos que retratar uma cesta com diversas frutas. Ao chegar no local sentamos nas cadeiras e observamos a distância o cesto de fruta que está no centro da sala em cima de uma mesa. Caso apenas sentarmos e começarmos a pintar em nosso quadro, teremos, tu e eu, desenhos distintos, pois observaremos a mesma cesta de ângulos distintos. Teremos o saber mas não o conhecimento.
Para termos o conhecimento é preciso observar o mesmo objeto de vários ângulos, sentir o cheiro, saber se as frutas estão maduras, o peso da cesta, etc., tudo isso irá contribuir para produzir um quadro mais sincero e preciso. Conhecer é mais do que lembrar ou ter um aspecto direto do objeto, é conduzir as lembranças aos vários aspectos dando assim uma forma mais elaborada. Reconhecer que o objeto possui dimensões diversas, mesmo os mais simples como a menor das partículas ao infinito do cosmo.
Outra analogia para reforçar é a de saber ou conhecer uma pessoa. Saber quem é uma pessoa basta olhar uma foto da carteira de motorista junto com detalhes físicos e mentais, ou mesmo ler uma bibliografia sobre tal pessoa. Mesmo sabendo alguns acontecimentos passados deste indivíduo nada garante que tu o conheça. O conhecimento de uma pessoa se passa no dia-a-dia, onde podemos presenciar suas múltiplas facetas, seus desenvolvimentos e até deles participar. Isso corresponde a ter uma avaliação crítica sobre tal pessoa. Analogamente pode ser adquirido esse conhecimento pela leitura de bibliografias distintas, que contrastem fatos específicos da vida individual dessa mesma pessoas, ou seja, para que tu a conheça será necessário ter em mãos bibliografias diversas e que em casos isolados tenha tramas conflitantes. Esse método é bom para avaliar se certas bibliografias são verídicas ou não. Se exatamente todas as bibliografias existentes forem exatamente iguais teremos uma história moldada e não um relato crítico. Correspondendo então a ver apenas um ângulo do cesto.
Portanto, há sim uma gradação do conhecimento, tendo o saber como base primeira, pois ela representa as primeiras imagens, e ao longo do tempo poderemos observar o assunto de diversos ângulos. Quantos mais ângulos observados, quanto mais características vistas, mais conhecimento sobre o assunto teremos. A não avaliação dos diversos parâmetros causa diversos problemas, vários deles podem ser problemas estruturais, comumente falado de deficiências mentais. No livro citado o autor mostra 21 problemas mentais que podem ser tratados e trazidos à normalidade.
PS: Boa parte dos problemas causados em nossa educação advém dessa unilateralidade de pensamento, levando o estudante a ter uma visão específica de determinados objetos e deixando-o incapaz de avaliá-lo de outras perspectivas, o que Feuerstein classifica como deficiência, com muita propriedade. Desta forma precisamos estar constantemente engajado no combate contra a centralização da educação. Isso já acarreta em deficiências mentais em todos os estudantes, isso não é brincadeira. Próximas publicações iremos falar sobre essas deficiências e suas implicações.

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