Didática Magna (Parte I)
- Maurício Mafra
- 25 de jun. de 2017
- 6 min de leitura
Como havia prometido falarei de Comenius e sua obra Didática Magna. Adianto que ele possui uma estrutura bem mais legível se observada atentamente mais do que as obras atuais sobre o mesmo assunto, como as das obras do Paulo Freire sendo elas ininteligível, dito de outra forma, a Didática Magna ao menos é um livro bem escrito. Para ficar mais claro os trechos entre aspas será transcrições diretas do livro e no final entre parênteses o capítulo e o parágrafo. Para não ser injusto tanto com o leitor e nem com o autor, minhas análises aqui são superficiais e introdutórias e, caso eu queira fazer uma análise bem elaborada, precisarei de um livro e não de um simples artigo do blog. Mas para efeitos de conhecimento de onde estamos e para onde vamos, o estudo, mesmo que sucinto, do tema é bastante proveitoso, já que levará a um aspecto fundamental e estruturante de todos os pedagogos vindouros, ou da maioria deles, de tal forma que é mais importante estudar os alicerces do que as ramificações da mesma.
Dito os pormenores vamos ao que interessa, primeiro falando alguma nota bibliográfica rápida, depois ao conteúdo em si e por fim ao final de cada comentário darei meu comentário, talvez a posteriori dedicarei uma parte desse comentário a falar da obra no geral.
Comenius ou Comênio (1592-1670), foi um bispo protestante e educador que nasceu na Morávia, dito como o pai da educação moderna e fundador da didática moderna. Defende um ensino para todos e de processos intuitivos de aprendizagem. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), homenageia Comenius com sua maior condecoração.
Então o livro é dividido em 33 capítulos, sendo que possui 2 capítulos introdutórios a respeito tanto de como foi feito o livro e seu objetivo, que era pequenas transcrições na língua mãe de Comenius e que depois foi transcrita para o latim. Trata-se de um livro tanto prático como teórico. Esses dois capítulos são Aos leitores e A utilidade da Arte da didática. Aos leitores indica no seu terceiro parágrafo o objetivo geral do livro, " Nós ousamos prometer uma Didática Magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados; de ensinar de modo fácil, portante sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes, a uma piedade mais profunda[...]". Esse é o espírito do livro inteiro. Sendo o problema do livro como botar em prática essa Didática Magna.
Argumentos
A primeira parte estruturante do livro, que falarei nesse artigo, é separado pelos capítulos I e VI, no qual ele discorrerá sobre as vontades ou desejos de Deus para nós humanos, no qual fará varias citações bíblicas para sustentar seus argumentos, e as semelhanças entre o aprendizado do homem e a evolução da natureza, no qual usará de várias analogias para tal.
Como um cristão ele acredita que esta vida não passa de uma preparação para a vida eterna, capítulo III, dessa forma o ideal nessa vida é a preparação e como não se sabe o que é a próxima vida precisa-se ensinar tudo a todos, além disso o homem como criação "máxima" de Deus, no qual influi sobre nós o sopro da vida, espírito, somos as criaturas mais elevadas e perfeitas da natureza, portanto somos capazes de grandes feitos, para isso é preciso "educá-los de tal forma que vivam lembrados de sua dignidade e de sua excelência[...]" (I, 4). Como essa vida é apenas uma preparação, as coisas mundanas como poder e riqueza não poderá se saciar mesmo que possua o universo inteiro, nem muito menos aqueles que se dedicarem ao estudo da sabedoria nunca encontrará fim, "quanto mais souber, tanto mais compreenderá que falta muito por saber[...]" (II, 7). Dividirá cada um com 3 tipos de nascimento ou 3 espécies de vida, o útero, a Terra, o Céu, sendo respectivamente, a vida propriamente dita, os sentidos materiais, e os sentidos espirituais, onde são lineares, ou seja, a primeira prepara para a segunda, e a última não tem fim. Isso para evidenciar a evolução do conhecimento no qual transcorrerá depois.
Para o autor existe três graus de preparação para a vida, conhecer, dominar e conduzir para Deus e a si mesmo e, consigo, todas as coisas, capítulo IV. Isso advém de sermos criaturas racionais, que consegue dominar outras criaturas e a si mesmo e que fomos feitos a imagem de Deus, dessa forma a educação sendo o pilar fundamental para que consigamos chegar a perfeição. Para isso precisamos ter todo conhecimento das coisas, costumes honestos e piedade. De forma que ter um e não ter outro seria como, ter um relógio de ouro com um maquinário de péssima qualidade, sendo isso uma atitude pueril, não se importando com o que é realmente importante. O fato de sermos criaturas feitas para as mais altas glórias, temos em nós por natureza as sementes da instrução, virtudes e da religião, capítulo V, de tal forma que já somos inclinados a buscar essa perfeição e até temos certa capacidade de entender todas as coisas, "Pitágoras costumava dizer que para o homem é tão natural conhecer tudo que, se um menino de sete anos fosse convenientemente interrogado sobre qualquer problema filosófico, estaria em condições de responder com segurança a tudo[...]"(V, 5). Porém com o pecado não podemos mais ter tanta certeza disso, por isso o dever de educar ainda na infância. Outro detalhe é que ao comparar as variadas formas de aprendizado com um jardim, onde quanto mais variedade o jardim fica mais bonito, e que em um mesmo jardim pode-se plantar de tudo basta que o jardineiro seja bom, pode-se ver o argumento de que deve-se ensinar tudo a todos e o aprendizado está na forma de professor e basta ele ser bom o suficiente que os alunos aprenderão. E depois de formadas ou crescidas elas se tornarão difíceis de modificar, como uma árvore de caule grosso não consiga mais ser dobrada ou podada, enquanto que as mudanças são mais fáceis nos primeiros estágios da vida, seja na da planta ou na do ser humano.
Para terminar essa breve análise o autor irá falar que somos homens moldados para a sabedoria infinita só a conseguiremos mediante a disciplina, por isso ele fala, "Fique estabelecido, pois, que a todos os que nasceram homens a educação é necessária, para que sejam homens e não animais ferozes[...]"(VI, 10). Ressaltando então que um homem sem educação é como um papagaio. Além disso o autor sugere que aqueles que irão comandar outros como reis, magistrados, o clero, entre outros "será necessária uma educação profunda na sabedoria, assim como os guias precisam ter olhos bem treinados, e os intérpretes a língua[...]"(VI, 9).
Entendimento
Resumindo, os homens por serem criaturas quase divinas ou inclinadas a serem, deverão trilhar, pela educação disciplinada, os caminhos para conseguirem se assemelhar à Deus, de tal forma que deverão ser moldados por alguém que já conseguiu moldar-se ou tem inclinação para isso, os magistrados. Para tal precisará ser observado os aspectos naturais do homem, para que assim consiga tirar um melhor aproveitamento. Seguindo então os caminhos naturais, como observado na natureza por objetos e animais, até mesmo nas construções do próprio homem, como os relógios, onde cada parte serve para um determinado objetivo no conjunto do todo.
Críticas
A ideia de que somos seres inclinados a compreender tudo é algo que contradiz no fato de que essa vida não é passageira e curta, dessa forma não se pode compreender tudo literalmente, então modificando o TUDO que o autor expressa por uma pequena parte, até ínfima do conhecimento, de tal forma que será impossível qualquer ser humano conheça tudo o assunto. Além do mais, comparar o ser humano com as coisas da natureza parece-me meio desonesto, para ambos os lados, mas de forma lógica o autor diz que somo feitos para comandar, ou seja, somos superiores a algo que comandamos, e que de certa forma é verdade, porém comprar o ente superior ao inferior é idiotice, de tal forma que ao comparar um ente superior ao inferior se perde a essência das proporções, a comparação deverá ser feita do inferior ao superior, que de certa forma irá elevar tal ente. Então se somos realmente criaturas feitas a imagem e semelhança de Deus temos outras características do que diferem absurdamente dos outros animais ou entes da natureza, sendo essa diferença auto-evidente pela racionalidade, então comprar o aprendizado do ser humano aos das demais criaturas é perde a essência do homem.
Assim iremos criar um complexidade infinita, olhando de certos ângulos, que uma didática para todos e para tudo é utópico, é querer trazer o reino dos céus para a terra e não elevar a terra aos reinos dos céus, que de certa forma é até herético para um cristão. Mas longe de mim estar julgando alguém, estou julgando o que está escrito, tal escrito um livro usado por diversos órgãos do mundo inteiro, e por isso mesmo foi ele o primeiro a ser debatido pelo blog.

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