Didática Magna (Parte IV)
- Maurício Mafra
- 1 de jul. de 2017
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Como havia falado a estrutura anterior é o esqueleto no qual esse aqui irá dar corpo ou forma, parte essa que compreenderá os métodos para o ensino universal. Também havia comentado a ligação muito forte dessa estrutura com a anterior, de forma que uma sem a outra seria um corpo amorfo, mas vamos ao estudo.
Argumentos
Para o autor existem 6 métodos para por em prática um ensino universal, são os métodos para 1) ensinar ciências, 2) ensinar as artes, 3) ensinar as línguas, 4) ensino da moral, 5) infundir a piedade e 6) para escolha do material didático.
1) Para esse primeiro o aluno precisa de 4 condições, i) que o olho e a mente seja puro, ii) que os objetos estejam próximos, iii) que esteja atento, iv) que tudo esteja interligado com a ajuda de um método adequado. Essa parte se adéqua ao engenho do aluno.
Então temos 9 observações para o ensino da ciência, I) Ensinar tudo o que se deve saber, II) Tudo deve ser ensinado como coisa atual e de inquestionável utilidade, III)Tudo deve ser ensinado diretamente, IV) Tudo deve ser ensinado segundo as causas, V) O conhecimento seja dado primeiro de modo geral, e depois as parte, VI) Deve-se saber todas as partes do objeto, mesmo as mais miúdas, VII) As coisas devem ser ensinadas uma depois da outra, VIII) Deve-se insistir em cada coisa, até que seja compreendida e IX) Deve-se ser ensinadas as diferenças das coisas.
2) Para ele existem 11 regras padrões para o estudo das artes, sendo 6 ao uso delas, 3 a orientação e 2 ao exercício. são eles I)Aprender a fazer fazendo, II) Deve haver sempre uma norma estabelecida dos trabalhos por fazer, III) O uso deve ser mostrado mais com fatos do que com palavras, IV) O exercício é iniciado pelos primeiro rudimentos, e não com obras já acabadas, V) Os primeiros exercícios devem ser feitos com matéria conhecida, VI) Primeiro imita-se depois cria-se, VII) Quem conseguir imitar bem uma boa obra deverá ser considerado perfeito em sua arte, VIII) A primeira tentativa deve ser mais exata possível, IX) Os professores devem corrigir imediatamente os erros, X) O ensino completo da arte consiste em síntese e análise e XI) Devem ser praticados até virarem hábitos.
3) Este método resume-se em 9 regras, são elas I) Aprenda-se uma língua por vez, II) Deve ser aprendido em dado tempo, para que não se torne principal o que é secundário, III) Deve ser aprendida mais com prática do que com regras, IV) Mais regras ajudam a prática e a consolidam, V) As regras devem ser gramaticais e não filosóficas, VI) Estudo comparado com uma língua conhecida, VII) Os temas iniciais devem ser conhecidos e VIII) Portanto, todas as línguas devem ser aprendidas com o mesmo método. Ainda podemos destacar o uso de 4 livros didáticos vestíbulo (para aquele que está aprendendo a falar), porta (contendo o léxico mais usado da língua), palácio (textos escritos) e tesouro (são os textos clássicos da língua).
4) Essa parte é composta por 16 regras, que para não ficar tão maçante irei por de forma bem resumida pelo próprio autor em que consiste, "O mais importante é que a arte de infundir a verdadeira moralidade e a piedade seja estabelecida com correção e introduzida nas escolas, para que estas realmente sejam, como se diz, oficinas de homens" (XXIII, 2).
5) Esta parte é composta por 21 regras, e como a anterior, colocarei uma ideia que tente abarcar o sentido desse método. "A piedade é um dom de Deus; é dada a nós pelo céu por obra e virtude do Espírito Santo que, no entanto, age ordinariamente por meios comuns e elege como ministros os pais, os preceptores (professores) e os ministros da igreja, que plantam e irrigam com cuidado e atenção os renovos do paraíso; por isso é justo que eles entendam a razão de seus deveres." (XXIV, 1). Podemos notar aqui, que mesmo sendo obra de Deus a piedade se manifesta por meios humanos e dessa forma precisa de métodos adequados.
6) Essa última parte faz referência aos material didático, no qual para chegarmos a perfeição ou utilizaremos apenas material cristão ou utilizar material pagão mas com cautela. Isso leva o autor a questionar o uso de textos dos grandes filósofos antigos, bem como os textos comuns a ciência. Para argumentar ele usará textos bíblicos como os de (Jr X, 2), (Is VIII, 19-20), entre outros. Então ele argumenta dessa forma, "Deus proibiu expressamente a seu povo a cultura e os usos pagãos[...]" (XXV, 6), "Os verdadeiros fiéis de Deus nunca procuraram outro ensinamento fora da palavra divina, da qual hauriram em abundância uma sabedoria verdadeira, superior a qualquer sabedoria terrena[...]" (XXV, 8). "Mas os livros não são ídolos. Respondo: Não, mas são relíquias dos povos que o Senhor afastou da presença do povo cristão, e mais perigosos que os ídolos[...]" (XXV, 12), "Grande é a sabedoria contida nos livros dos filósofos, dos retóricos e dos poetas. Respondo: são dignos das trevas os que desviam os olhos da luz[...]" (XXV, 17).
Entendimento
O autor quer simplesmente alcançar a perfeição aqui na terra, e não exitará em usar os argumentos contidos na bíblia para sustentar seu ponto de vista. Isso entrará em oposição a educação da época que era bem mais liberal, tanto nas Universidades como nos colegiados e nas guildas, formando assim a primeira ideia de educação para todos e pondo ponto por ponto, preparando o terreno para tal feito, que hoje foi conseguido. Talvez não fique claro o suficiente com esses escritos acima, mas a concepção de uma escola totalmente integrada com todos os seres de forma que todos saibam mais ou menos as mesmas coisas, é, de forma geral, o objetivo do autor. E para fazer uma pequena nota, o ensino da época sendo mais liberal poderia trazer pessoas discordantes do pensamento reinante, e dessa forma o autor vai querer padronizar tudo, para que isso não ocorra, além do mais o ensino de virtudes na escola é algo bem notável, pois era o oposto da época, que começava os estudos a partir dos 12/13 anos, onde o aluno já viria com uma bagagem de conhecimentos tantos espirituais como da vida cotidiana.
Discussão
A concepção de uma escola única é e padrão para todos é transformar o ser humano em uma máquina, como se fosse um objeto a ser formado e transformado, até descartado, caso não supra as exigências dos magistrados e sábios da época, que além de tirar toda a liberdade do indivíduo, transfere todo o poder para pessoas que nem sempre, e não vão ser, de boa índole, já que qualquer ser humano com consciência suficiente irá recusar tão empreendimento, que é formar seres humanos e não máquinas.
Ora, como um autor de conhecimento do ser humano, para o aprendizado de certas áreas de pesquisa ele até pode ser levado em consideração, contudo, atualmente essa parte, que chamarei de reciclável, não é abordada, e só é abordada a parte de controle da escola. Então ficamos com o pior que o autor poderia nos contribuir, e isso formará uma educação totalitária, autoritária e não cognitiva, pois expliquei nas partes anteriores, que para igualar a educação não conseguiremos igualar pelo melhor, mas sim pelo pior.
Por isso fiz esse estudo, para mostrar a raiz do problema ou ao menos trazê-lo a superfície para pessoas mais competentes do que eu possa inspecionar o assunto com mais seriedade e mais competência. Adianto que o estudo de algo assim sempre será vantajoso, pois aprendemos com os erros, mas para isso não precisamos literalmente errar, basta apenas reconhecer o erro e tentar não cometê-lo. Portanto, uma educação boa será aquela em que a liberdade está condicionada a comunidade, que por sua vez deve estar livre de instituições maiores, já que não adianta descentralizar a educação e o conjunto do todo estar subordinado ou ter referências de instituições que querem controlar a educação, vide a Unesco.

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