Didática Magna (Parte III)
- Maurício Mafra
- 29 de jun. de 2017
- 5 min de leitura
Nesta terceira parte do estudo do livro Didática Magna iremos abordar os princípios. Entenda-se por princípios as considerações da natureza humana para então conseguirmos estudar e compreender as funções da educação bem como seus métodos. Parece que esse tópico já foi citado, porém os tópicos anteriores são apenas introduções, uma espécie de preparação do terreno para algo mais profundo.
Argumentos
São 5 os princípios: I)Prolongar a vida, II)Abreviar as artes, III)Agarrar ocasiões, IV)Despertar o engenho, V)Aguçar o juízo.
I) Sabendo que somo seres finitos e incapazes de compreender tudo, porém uma vida bem utilizada será uma vida longa, mesmo que curta no quesito de tempo. Para utilizar bem a vida precisamos defender o corpo de doenças e fazer tudo com sabedoria, de tal forma que para realizar esses feitos precisamos de muita disciplina.
II)Para abreviar as artes é preciso 1)iniciar-se muito cedo, 2)preparar-se para ela, 3)ir dos assuntos mais gerais para os mais específicos, 4)das mais fáceis para as mais difíceis, 5)sem assuntos supérfluos, 6)métodos adequados a idade, 7)se for ensinado pela experiência direta, 8)com utilidade imediata, 9)se tudo proceder lentamente e 10)com um método universal.
III e IV) Para compreender como agarrar as ocasiões e despertar o engenho, que já foi citado no artigo anterior, é preciso que 1)os estudos sejam estudados de inquestionável utilidade, 2)todos juntos, 3)se tudo for atribuído a sólidos princípios, 4)se esse princípios forem aprofundados, 5)se tudo se apoiar nesses fundamentos, 6)se tudo for distinguido de modo claro, 7)se tudo for fundamentado em um algo anterior, 8)se tudo tiver relação entre si, 9)se tudo for dada uma ordem que tenha relação com o intelecto, a memória e a língua, 10)se tudo for consolidado com exercícios constantes.
V) Para aguçar o juízo ele irá dispor do escopo a seguir 1)um professor por classe, 2)para cada matéria um professor, 3)um único trabalho para toda a classe, 4)todas as disciplinas de línguas deve ser ensinada de uma única forma, 5)tudo deve ser ensinado a partir de princípios primeiros de modo breve e essencial, 6)tudo que estiver interligado deve continuar, 7)tudo deve ser ensinado segundo um avanço linear, 8)tudo que for inútil deverá ser descartado.
Enumerei apenas os pontos principais dessa parte da estrutura singular que são os princípios. Agora retirarei dois trechos da fala do autor para dar dois pontos, que ao meu ver, são importantes para a visão que ele tinha sobre a educação.
"Desse princípio [III e IV, 5], segue-se que instruir bem os jovens não significa atulhar suas mentes com um amontoados de palavras, frases, sentenças, opiniões extraídas dos autores, mas, ao contrário, desenvolver o entendimento das coisas, de tal modo que dele brotem, como de fonte viva[...]"(XVIII, 22).
"O professor pessoalmente, como inspetor supremo, deverá dirigir-se ora a um, ora a outro, para verificar sobretudo a atenção daqueles em quem tem pouca confiança. Por exemplo:pedirá as lições aprendidas de cor a um aluno, a um segundo, a um terceiro e a todos quantos ele pedir para levantar-se, um após o outro, entre os primeiros e os últimos, enquanto todos os outros ouvem[...]"(XIX, 24).
Entendimento
Baseando-se em uma ideia universal de educação e com fortes laços a educação clássica o autor propõe alterar os alicerces fundamentais da educação clássica, mas na sala de aula o professor ainda terá autonomia, autonomia essa que aos poucos será uma escravidão, pois como ele dita um termo universal, todos deverão seguir, sendo que cada mudança deverá ser empreendida à todos, e caso tenha sucesso a educação irá se distanciar, e realmente isso aconteceu, da educação clássica. Então para isso ele forma nessa estrutura o esqueleto para formar sua educação universal.
Discussão
Fica mais óbvio e evidente as atitudes totalitárias do autor, no qual despreza boa parte dos alicerces que fez com que ele chegasse aonde chegou. Devo admitir que nenhum sistema de educação será perfeito, pois a perfeição não do ser humano, mas obrigar ou aludir uma educação universal e perfeita é no mínimo insensato, para não dizer diabólico. Sem querer entrar na questão religiosa, mas logo um protestante que se separou da Igreja Católica, que quer dizer Igreja Universal, por justamente ela não ser perfeita, justamente ele que quer trazer a perfeição.
Olhe só esse trecho, "1)Ter prontos os livros [didáticos] e todos os demais instrumentos didáticos, 2)Que o intelecto seja formado antes da língua, 3)Que não se aprenda nenhuma língua a partir da gramática, apenas dos autores apropriados[...]"(XVI, 19). Separei esse exemplo por ele ser basicamente a descrição do nosso sistema atual de educação, todavia há inúmeros exemplos de erros como esse ao longo do livro, e ficaria muito denso explicar um a um em um blog, porém esse eu falarei.
Primeiro ponto, caso tudo esteja pronto e ao acesso do aluno, sem ao menos ele saber de onde vem, para onde vai, etc. o aluno perde parte do conhecimento de mundo, que aliás é deveras importante. Formando assim seres que pensam que tudo está ao alcance das mãos sem precisar de esforços, não que um ou outro instrumento possa estar ao alcance do aluno, porém os livros didáticos resumem os pontos históricos, por exemplo, a tal ponto que o aluno não sabe o que está lidando ali e não aprende corretamente, dessa forma livro didáticos devem ser uma fonte secundária e não primária de informação, os livros teóricos e práticos devem ser as fontes primárias.
Segundo ponto, como alguém vai conseguir se formar sem antes possuir os meios para tal, pois o conhecimento é dado pela língua, seja falada ou escrita, de tal forma que é imprescindível saber, com bastante firmeza, a língua no qual se dialoga e se aprende. Caso você que não saiba muito espanhol ou italiano, mas consegue se comunicar, já que essas línguas tem muitas semelhanças com a nossa, imagine você aprender algo com esse conhecimento bem restrito da sua língua, com apenas aquelas palavras cognatas ou idênticas a nossa, você acha que aprenderia muita coisa? Portanto o aprendizado da língua com fluência e conhecimento apurado das nuanças deve ser o básico, e sem ele será impossível conhecer algo.
Terceiro ponto, caso alguém acompanhe a educação atual perceberá que utiliza-se mal a gramática ou não se usa, como eu dou aulas particulares vejo isso diariamente. A falta da gramática implicará em confusões na hora de interpretar, resumir e conhecer os assuntos abordados, prejudicando todo o desenvolvimento da criança. Então se não for usar a gramática para estudar a língua irá usar o quê? Fica a critério do autor apropriado, no caso atual o autor apropriado são as organizações de controle mundial como a Unesco por exemplo. Por isso vemos agora separados os livros de português em gramáticas e o livro didático, isso já nos níveis mais básicos da educação.
Concluindo, essas estruturas apesar de terem formas de melhoria, prejudica e muito a formação das crianças com uma visão deturpada da verdade em prol de um futuro melhor, por isso ela é usada por instituições globalistas, socialistas, criptocumistas, expressão tirada do livro Maquiavel Pedagogo, etc. onde a educação não será mais para elevar o ser a um nível superior de consciência, mas apenas adaptá-lo ao sistema já previsto por alguém ou grupo de pessoas. O que não pode ser defendido por nenhum Cristão e nem muito menos qualquer pessoa com o mínimo de honestidade e decência.

Comments